O impacto da má alimentação na saúde bucal

O impacto da má alimentação na saúde bucal

Artigos - 15/06/2021

É comum nos depararmos com pacientes apresentando sinais clínicos advindos da má alimentação e bebidas industrializadas. Não apenas sobre as questões metabólicas e físicas, mas também na cavidade bucal. Neste artigo, traremos a correlação entre os alimentos e bebidas processados e a qualidade da saúde bucal, buscando alertar os colegas a não somente reconhecer as questões mais comuns decorrentes dessa situação, mas enxergar além, para orientar o paciente sobre a importância da mastigação e ingestão de bons alimentos e assim contribuir com sua qualidade de vida.

Junk-food é uma expressão pejorativa para alimentos com alto teor calórico, mas com níveis reduzidos de nutrientes. Comidas com altos níveis de gordura saturada, sal ou açúcar, numerosos aditivos alimentares e carente de proteínas, vitaminas e fibras dietéticas, entre outros atributos saudáveis.

Mundialmente, o consumo de junk-food tem sido associado à: obesidade, doenças coronárias, diabetes tipo 2, hipertensão, cáries, gengivite e erosão ácida. Além do alto teor de açúcar, os alimentos processados são os responsáveis pela produção dos ácidos que formam a placa bacteriana e apresentam consistência mais pastosa, facilmente digeridas ainda na cavidade oral.

Ação do junk-food na saúde
Já parou para pensar no impacto que isso pode trazer para os dentes, já que os alimentos propícios a estimular o exercício dos dentes são os alimentos crus? Atualmente, é comum as crianças apresentarem atraso na esfoliação dos dentes permanentes, sem falar da adaptação fisiológica como agenesias dentárias, um dos fatores principais é a falta desse estímulo mastigatório. A tendência da alimentação mais fácil não afeta apenas os dentes, mas o padrão respiratório e de deglutição.

O que dizem os pesquisadores
Três artigos interessantes buscaram relacionar a mastigação e deglutição em crianças e adolescentes. Noemia, (2016) verificou que o tipo de consistência alimentar preferido pelos respiradores orais em idade escolar eram alimentos de consistência sólida, porém, com maior ingestão de líquido durante as refeições na presença do alimento na boca. Já Souza e Guedes, (2017) avaliaram o perfil miofuncional na mastigação e deglutição de crianças e adolescentes obesos, os perfis avaliados apresentaram maior ocorrência de alterações em relação à tonicidade e mobilidade de bochechas e na deglutição. Canuto (2016) investigou as possíveis alterações causadas pelo modo respiratório na mastigação de crianças com dentição decídua completa, respiradoras orais e nasais. Houve diferença estatisticamente significante, evidenciando que o modo interfere negativamente na mastigação do respirador oral quanto aos aspectos: tempo mastigatório, sobras de alimento na cavidade oral, postura dos lábios e ruído durante a mastigação.

O vilão
Há algum tempo a carie era o maior vilão, mas atualmente, as lesões não cariosas vem ganhando um papel de destaque. As dietas que trazem alimentos e bebidas ácidas que podem ser perigosas, pois estão relacionados à erosão dos dentes e/ou a retirada do esmalte que protege a estrutura interna dos dentes. Figueiredo, Santos e Batista (2013) avaliaram hábitos de higiene bucal, hábitos alimentares e pH salivar em pacientes com ausência e presença de lesões cervicais não cariosas. A frequência do consumo de refrigerantes, de 1 a 7 vezes semanais, apresentou associação positiva. Os pacientes com alterações oclusais apresentam um elevado número de lesões cervicais não cariosas e a frequência do consumo de refrigerantes representou associação estatística com a presença de lesões.

Além do refrigerante, as bebidas isotônicas também desenvolvem sinais clínicos no esmalte. Cavalcanti (2010) avaliou a influência do Isotônico, uma bebida destinada a reidratar, bem como repor eletrólitos, carboidratos e outros nutrientes. As bebidas analisadas apresentaram baixo pH endógeno, podendo as mesmas serem consideradas potencialmente erosivas aos tecidos dentais se consumidas de modo inadequado e com elevada frequência. Com relação à temperatura, recomenda-se a ingestão dessas bebidas resfriadas. Entre as principais consequências da erosão são hipersensibilidade, descoloração do dente, desgaste e deformação estrutural do dente.

Nós, como cirurgiões-dentistas, devemos não apenas avaliar esses sinais clínicos e tratá-los, como alertá-los e orientar nosso paciente.
Medidas simples como trocar o refrigerante por suco natural ou água com gás, diminuir a ingestão de alimentos processados (biscoitos, guloseimas, junk-food) e optar por fibras (verduras, legumes, e uma dieta mais balanceada). Dietas em que constam alimentos integrais como: massas, cereais e arroz. Legumes, vegetais e frutas fibrosas como maçã e pêra. Além de peixes, castanhas, grãos, sementes, queijo, iogurte, leite – fontes de cálcio e vitamina D que fortalecem os dentes e suas estruturas, auxiliando no combate à erosão.

Dentes não são apenas para sorrir, eles possuem uma função vital para todo o organismo. O paciente deve ser conscientizado disso.

Fonte: DentalCremer

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