Nervo trigêmeo sinaliza infecções bucais para o cérebro

Nervo trigêmeo sinaliza infecções bucais para o cérebro

Notícias - 28/05/2011

A sinalização de processos infecciosos na cavidade bucal para o cérebro é feita por meio do nervo trigêmeo, e não apenas pela corrente sanguínea. A hipótese foi confirmada em testes com ratos feitos pela cirurgiã-dentista Valéria Pontelli Navarro Tedeschi, em dissertação de mestrado apresentada no Programa de Odontopediatria da Faculdade de
Odontologia de Ribeirão Preto (FORP) da USP. 

?As infecções causadas por bactérias na gengiva podem estender-se a outras partes do organismo e causar efeitos sistêmicos em órgãos a distância?, diz Valéria. A pesquisadora criou um modelo experimental em ratos, seccionando o nervo trigêmeo dos animais e simulando a periodontite injetando na gengiva partes de Bactérias Gram-Negativas. 

"Este tipo de microorganismo pode estar presente na doença periodontal, tanto em adultos como em crianças", conta. "Foi utilizado somente um pequeno fragmento da membrana externa dessa bactéria, conhecido como Lipopolissacarídeo ou simplesmente LPS." 

Os ratos que tiveram o nervo cortado não apresentaram febre, ao contrário do grupo de animais que ficou com o nervo intacto. "Com a presença do LPS na gengiva, os ratos tiveram um aumento de temperatura em torno de um grau e meio", explica a pesquisadora. O trabalho foi orientado pelo professor Luiz Guilherme Siqueira Branco do Departamento de Morfologia, Estomatologia e Fisiologia da FORP. 

Bactérias
Segundo Valéria, as bactérias gram-negativas estão presentes em todos os seres humanos só que em concentrações muito baixas. "Quem tem doença periodontal possui muito mais colônias dessas bactérias na boca, que quando se multiplicam ou morrem, liberam o LPS", conta. "Este LPS também pode ser liberado quando há manipulação da cavidade bucal, seja fazendo uma cirurgia, uma raspagem, um tratamento de canal ou até
mesmo após uma escovação." 

Em alguns pacientes, a infecção na cavidade bucal pode causar doenças sistêmicas. "Entre elas estão a artrite reumatóide e a endocardite bacteriana, que afeta as válvulas do coração", aponta a pesquisadora, "além do risco de provocar abortos espontâneos e partos prematuros em gestantes". 

"As pessoas mais vulneráveis são os idosos, as crianças, aqueles que fazem uso frequente de esteróides e portadores de cirrose." A periodontite é tratada com raspagem e profilaxia periódica, além de cirurgias para eliminar o tártaro e as bactérias da gengiva. A prevenção deve ser realizada através da escovação, uso de fio dental, bochechos com antisépticos e visitas periódicas ao dentista. "Mas se a bactéria instalar-se no coração, o tratamento médico torna-se indispensável para a cura da doença", alerta Valéria.